À primeira vista, ser criativo e ter uma grande ideia é o suficiente para empreender e competir na sociedade de hoje. Parece que investir em si próprio, acreditar na própria criatividade e competência é a condição única e suficiente para escapar à tragédia que se instalou sobre as relações entre trabalho, emprego e mercado do capitalismo global.
Entretanto, não se podem ignorar relações anteriores e mais amplas entre essas iniciativas e suas reais determinações. Grandes instituições financeiras fazem aportes milionários sobre estas pequenas inovações empreendedoras. O mundo encantado das startups sempre tem um gigante financeiro que lhe promove. O Uber é um bom exemplo disso, pois tem como suporte a Goldman Sachs, um grande player global detentor de recursos que se comporta discretamente por trás dessas iniciativas criativas, revestindo o velho capitalismo de uma nova roupa chamada empreendedorismo.
Outra gigante que investe em ideias inovadoras e ajuda a criar esta fábula é o Banco Original, cujo CEO, seu executivo chefe mais importante, é o ministro da fazenda do atual governo, que também dirigiu o Banco Central no governo anterior. É o maior incentivador das inovadoras "fintechs", abreviação de financial technology, firmas de startup entrantes no mercado para concorrer com os grandes bancos. São os pequeninos que, como em um passe de mágica, irão assustar os grandes. Não é assim! Os próprios bancos criam as suas plataformas que servem como incubadoras de fintech e as mais bem-sucedidas vão-se incorporando ao próprio patrimônio dos grandes bancos.
Inovar e empreender, são, assim, eufemismos que visam a dar aparência de liberdade à devastação promovida pelas novas formas de extração do valor. São, na maioria das vezes, a expressão trágica das novas relações de emprego ditadas pelo mercado cada vez mais faminto de cérebros, nervos e músculos. Expressam também o descompromisso e a falência intencional do Estado em promover condições dignas de se produzir e trabalhar. Empreendedorismo sem liberdade é uma quimera, e é por essa razão que na sociedade do capital não passa de uma fábula!